Por Camila Mariano de Queiroz, Verônica Sabrina de Picoli, Livia Graça Pozzi, Joyce Kelly Branco de Faria Frontino, Vitoria Sarmento de Carvalho e Larissa dos Santos Corrêa
O cérebro é um dos órgãos mais importantes do corpo e um dos alvos de pesquisas que mais vem chamado a atenção é o eixo intestino-cérebro, que estuda a correlação do sistema digestório e com o sistema nervoso central. Pode parecer uma grande novidade, mas o cérebro e o sistema gastrointestinal possuem uma relação bastante sofisticada, não só por haver liberação de neurotransmissores de felicidade ao comer alguma refeição deliciosa ou de saciedade quando nosso organismo já tem a quantidade suficiente de alimento e nutrientes, mas também por influenciar no bem-estar emocional e, com o seu desequilíbrio, poder gerar até mesmo transtornos psicológicos e psiquiátricos, a longo prazo causadas, em parte, por uma dieta pouco saudável.
Mas, afinal, você sabe o que são neurotransmissores?
Os neurotransmissores são pequenas moléculas que células cerebrais usam para se comunicar umas com as outras. Porém estas substâncias químicas não estão apenas no cérebro. O trato gastrointestinal possui um sistema nervoso próprio, o Sistema Nervoso Entérico central (SNE), que é localizado em toda a parede intestinal e usa cerca de 30 neurotransmissores. As principais substâncias químicas cerebrais como serotonina, dopamina, acetilcolina e norepinefrina (noradrenalina) foram relatadas terem sido sintetizadas por bactérias intestinais. Isso quer dizer que cerca de 90% de serotonina e 50% da nossa dopamina pode ser encontrada no nosso intestino!
Segue abaixo uma tabela com algumas bactérias intestinais e os neurotransmissores fabricados:
Bacillus: Dopamina, Norepinefrina
Bifidobacterium: Ácido gama-aminobutírico (GABA)
Enterococcus: Serotonina
Escherichia: Norepinefrina, Serotonina
Lactobacillus: Acetilcolina, GABA
Streptococcus: Serotonina
Há ainda um terceiro elemento que interfere nessa conexão: a microbiota. Ela tem papel decisivo na manutenção da saúde física e mental, na digestão de alimentos e na proteção contra infecções. O termo microbiota intestinal refere-se à população de microrganismos (vírus, bactérias e fungos) que vivem no trato gastrointestinal. O microbioma evolui junto ao seu hospedeiro humano em uma relação simbiótica (associação a longo prazo entre dois organismos de espécies diferentes em que ambos os indivíduos envolvidos sejam beneficiados). O desenvolvimento do microbioma intestinal é influenciado por diversos fatores, tais como:
estresse;
predisposição genética;
alimentação;
infecções;
entre outros.
A influência da microbiota no comportamento tem ganhado destaque nas descobertas direcionadas a dietas com pré e probióticos, que estimulam o crescimento de bactérias saudáveis no intestino e ajudam a manter o equilíbrio da flora intestinal. Sendo os prebióticos alimentos ricos em fibras não digestivas (frutas e verduras), e os probióticos alimentos que contêm os próprios microrganismos (iogurtes e bebidas fermentadas) e que quando administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Geralmente, probióticos não se tornam resistentes no intestino, ou seja, é necessário consumo diário para manter seus efeitos positivos. Eles provaram ter sucesso em melhorar o estado de humor e depressão em numerosos estudos. Por exemplo, a análise dos múltiplos benefícios da bactéria Lactobacillus plantarum em adultos estressados, porém saudáveis, mostrou resultados que incluiam a redução nas medidas de estresse e ansiedade e no cortisol, e melhoras em aspectos da memória e cognitivos; a suplementação dessa mesma bactéria em um grupo de pacientes com Transtorno Depressivo Máximo levou a melhoras do desempenho no cognitivo.
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Oxford, pessoas que fazem uso regular de prebióticos e probióticos demonstraram a concentração de cortisol, hormônio do estresse, abaixo do nível daqueles que não tem esse hábito. Sabe-se também que níveis elevados de cortisol estão associados à depressão. Ou seja, além do estilo de vida e genética, estudos apresentam que a alteração da microbiota intestinal pode ser a causa ou pode potencializar distúrbios psicológicos e neurológicos. Não obstante, psicobióticos e bioterapêuticos vivos podem ter uma conexão com essas enfermidades, possivelmente auxiliando direta ou indiretamente no tratamento dessas doenças. Pode-se, assim, dizer que devido às enormes contribuições da microbiota intestinal ao corpo, esse órgão torna-se semelhante ao cérebro em suas funções de controle emocional, influenciado pela grande quantidade de neurotransmissores e produção de serotonina superior a do cérebro.
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