Microrganismos vivos já são usados em diversas áreas, como na indústria alimentar e na agricultura, devido às suas propriedades de manutenção da saúde. Esses produtos, conhecidos como probióticos, apresentam diversos benefícios à saúde, e podem ser usados em suplementos alimentares, por exemplo. Apesar de apresentarem diversos efeitos positivos, os probióticos podem apresentar algumas desvantagens, como flutuações na qualidade, um prazo de validade menor e a impossibilidade de uso em imunocomprometidos.
É nesse contexto que surgem os pós-bióticos: uma preparação de microrganismos inanimados e/ou seus componentes que confere um benefício para a saúde do hospedeiro. Como não utilizam microrganismos vivos e capazes de se replicarem, os pós-bióticos apresentam uma maior segurança, diminuindo o risco de translocação microbiana e de infecção para os consumidores (principalmente para aqueles mais suscetíveis). Além disso, a padronização desses produtos seria menos complicada, uma vez que todas as células estariam mortas, tornando ainda mais fácil o armazenamento e aumentando o prazo de validade.
O conceito de que microrganismos que não estão vivos são capazes de providenciar benefícios à saúde não é novo, sendo discutido desde 2009, e desde então, diversos nomes foram utilizados, como “paraprobiótico”. Dessa forma, diversos estudos já comprovaram formas pelas quais esses microrganismos inanimados podem contribuir com a saúde, como por exemplo:
Modulação protetiva contra patógenos, que se dá por 4 mecanismos: ações anti-biofilme, produção de componentes antimicrobianos, co-agregação e exclusão competitiva.
Fortificação da barreira epitelial, por meio de: aumento da expressão de proteínas, formação de um filme protetor e indução de vias de sinalização.
Modulação da resposta imune, que ocorre por meio dos seguintes componentes pós-bióticos: células inativas inteiras, metabólitos e componentes da estrutura celular em bactérias gram positivas e gram negativas.
Dessa forma, os pós-bióticos podem ser usados em diversos setores. Na indústria alimentícia, a fermentação é o processo com mais aplicações, sendo que as cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium são comumente usadas como cepas produtoras. Na indústria farmacêutica, muitos pós-bióticos ainda estão na fase de pesquisas, mas já foi comprovado que biossurfactantes de L. gasseri possuem capacidade antibiofilme contra MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina). Já na área biomédica, os pós-bióticos podem surgir como uma nova estratégia contra a alergia alimentar em crianças.
Porém, também já foi comprovado que os pós-bióticos apresentam um efeito relativamente menor na modulação do metabolismo intestinal ou na expressão gênica que afeta o metabolismo quando em comparação com os probióticos correspondentes.
Desse modo, os pós-bióticos surgem como uma nova e promissora forma de ajudar na manutenção da saúde dos indivíduos, com diversos benefícios para o consumidor e o produtor, mas ainda há muito o que ser descoberto e, assim como qualquer tecnologia, deve-se levar em conta, também, suas limitações.
Referências:
MA, L.; TU, H.; CHEN, T. Postbiotics in Human Health: A Narrative Review. Nutrients, v. 15, n. 2, p. 291, 6 jan. 2023.
Comments