por Angela Bernardo, Ariane Faria, Evely Bertulino, Julia Ferrarezi
Probióticos são microrganismos vivos que conferem um benefício à saúde do hospedeiro (Bermudez-Brito, 2012). Alguns critérios são utilizados na literatura para classificar um microrganismo como um probiótico, são estes: (1) ter origem humana, (2) não ser patogênico, (3) ser resistente a processamentos, (4) ser estável e permanecer viável aos sucos digestivos, (5) aderir-se à célula epitelial, (6) ser capaz de persistir no trato gastrointestinal e (7) ser capaz de influenciar atividade metabólica local (Szajewska, 2006). Eles podem ser comercializados na forma de preparações farmacêuticas (cápsulas ou sachês) ou naturais (leite fermentado, queijo, iogurte), que podem conter um único ou uma combinação de microrganismos (Ribeiro et al. 2008).
Dentre os principais mecanismos de ação dos probióticos temos a exclusão competitiva de microrganismos patogênicos, a produção de substâncias antimicrobianas e a modulação do sistema imunológico (Bermudez-Brito, 2012). Geralmente a administração de probióticos é aconselhável no caso de indivíduos que apresentam uma condição de disbiose, ou seja, um desequilíbrio na microbiota, e assim necessitam de auxílio no restabelecimento do equilíbrio em tal comunidade. Diversos estudos já elucidaram os benefícios dos probióticos em casos de indivíduos com disbioses (Dolan et al. 2016; Pizano et al. 2017; Williamson et al. 2017; Finley et al. 2018). As vantagens conferidas pelos probióticos são inegáveis, no entanto, existem muitos questionamentos acerca da efetividade desses microrganismos em casos de indivíduos saudáveis, que possuem uma microbiota bem estabelecida. Além disso, também podemos indagar se a utilização de altas doses de probióticos poderiam ser prejudiciais aos indivíduos.
Dados históricos indicam que gêneros de microrganismos probióticos como Lactobacillus e Bifidobacterium, administrados em alimentos e em forma de cápsula, são seguros para uso humano. Esta conclusão é apoiada por conta da sua ocorrência como comensais na microbiota de mamíferos e pelo uso estabelecido como seguro em diversos alimentos e suplementos por todo o mundo (REID et al., 2003). No entanto, para determinar normas de segurança para os probióticos, admitindo que em sua grande maioria são reconhecidos como seguros para consumo, a FAO e a OMS recomendaram que as diferentes cepas probióticas fossem caracterizadas no mínimo com uma série de testes, como: padrões de resistência a antibióticos, atividades metabólicas, produção de toxinas, efeitos colaterais em humanos etc. Em um estudo conduzido por Tremblay et al. recentemente, foi observad a ação de doses baixas e altas de probióticos na composição da microbiota, na persistência e na segurança dos mesmos em indivíduos saudáveis. O trabalho contou com 68 indivíduos e foi observado que as mudanças que ocorreram na composição da microbiota dos indivíduos testados, mesmo os que receberam as maiores doses do probiótico, foram momentâneas, já que grande parte dos microrganismos não foram mais detectados após 7 dias do fim da administração do mesmo (Tremblay, 2020). Dessa forma, este estudo, assim como outros, mostram que o uso de probióticos por indivíduos saudáveis gera a inserção de uma microbiota transitória, que não consegue competir com a comunidade já existente (Kristensen, 2016). Ainda existem questionamentos, no entanto, se a colonização seria necessária para que estes microrganismos probióticos exerçam efeitos benéficos à saúde, ou se cepas transitórias seriam suficientes. O uso alimentar de organismos vivos é uma prática muito antiga. Pode-se encontrar na Bíblia e nos livros sagrados do hinduísmo com práticas de laticínios fermentados naquela época. Produtos como o kefir e o kumis se originaram a muitos anos atrás, sendo assim conhecidos antes mesmo da descoberta dos microrganismos em si. Por ser uma prática antiga e nos dias de hoje ser utilizada com frequência, diversos estudos demonstraram benefícios na utilização de probióticos e na combinação destes probióticos e com vacinação oral, auxiliando imunização. Em vários estudos há uma confirmação geral de que probióticos são benéficos mesmo se a pessoa estiver saudável, destacando que seria necessário estabelecer produtos de acordo com cada faixa etária para que seus benefícios sejam mais eficientes. (Ouwehand, 2002; Link-Amster, 1994; Leahy, 2005; Ouwehand, 1999; Ouwehand, 2003). Dessa forma, podemos concluir, com os estudos realizados até o momento, que a inserção dos probióticos na dieta de um indivíduo pode proporcionar vantagens a saúde independentemente da condição da mesma, havendo é claro um efeito benéfico superior em indivíduos que apresentam uma disbiose. Mesmo não havendo evidências de que o excesso de consumo de probiótico possa ter algum efeito negativo, nunca é uma boa ideia exagerar.
Referências
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